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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Muguri no Shinken Gata




Shinken Gata, na nossa tradição guerreira, significa a espada com corte de fato, afiado, mas também pode se referia simplesmente ao combate real, também chamado de Jissen. Na nossa arte nem todos os praticantes se movimentam da mesma maneira, apesar de todos terem a mesma fonte - Hatsumi sensei. Nem todos têm o mesmo taijutsu, já que não é o praticante que se adapta a arte, mas sim a arte que se adapta ao praticante, fazendo com que haja uma liberdade de movimentos incrível e também que duas pessoas que, supostamente, possuem a mesma graduação tenham níveis de habilidades diferentes, dependendo da necessidade, treinamento, vontade de aprender e ego.

Quando penso em Shinkengata um dos nomes que vem a minha cabeça é o do Shihan Phil Legare, o qual desenvolveu com Hatsumi sensei o Shinken Taijutsu - baseado em Shinkengata tendo recebido Menkyo Kaiden direto de Hatsumi sensei.O outro nome é o do Shihan Michael Simien, Jugodan - Kugyo Happo Hikenjutsu Menkyo Kaiden, cujas habilidades em combates reais são surpreendente e me compeliu a escrever este artigo. Treino com ele há aproximadamente cinco anos e ainda me surpreendo em quase todas as aulas, consigo ver técnicas novas e com uma eficácia impressionante, fazendo com que movimentos supostamente simples se tornem extremamente mortais. Na noite de hoje (17/02/2010) no final do treino, fui chamado para ser uke pelo Michael, tendo que atacar com dois fudokens, e esperei que a resposta do Mike fosse ser apenas fazer uma técnica ou outra, só que para a minha surpresa ele usou técnicas de Moguri Gata, "mergulho", para contra-atacar todos os meus ataques e quando eu percebia, já estava recebendo diversos golpes dele, sendo que fui acertado até quando estava caindo, no ar. A diversidade de golpes foi tão intensa que era difícil até levantar para atacar de novo. Ao final do treino, sei que as pessoas que assistiram as técnicas estavam maravilhadas, mas apenas eu como uke pude perceber a real intensidade das técnicas. Fiquei pensando, até agora, como consegui ser golpeado tantas vezes, tão precisamente e em tão pouco tempo e acredito que além do conhecimento excepcional que o Michael tem sobre distância, angulo e timing, ele possui um ainda maior sobre kyushos e como golpeá-los, fazendo com que sua técnica tenha o máximo de dano possível. Esse é um outro nível no Budô, como o Shihan Arnaud Cousergue disse, os Shihans até o 14º dan são como estudantes de uma faculdade e os 15º dan são os formandos da mesma. Então, enquanto ainda estou no jardim de infância do Budo, compartilho a minha pouca experiência com vocês para dizer que o Budo realmente é um estudo para a vida toda, e nunca se chega a um fim, pois enquanto estivermos vivendo sempre temos algo a aprender, até que o nosso corpo se mova sem pensarmos, e alcançarmos o que Hatsumi sensei chama de "Olhos e Mentes do Divino".

Shidoshi-ho Américo Neto,
Sandan

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Reflexões pós Taikai 2009 – Shihans Arnaud Cousergue e Sven Bogaster


Depois de nove anos treinando no sistema Bujinkan Budo Taijutsu, acredito que meu treinamento tenha atingido um outro nível de percepção. Lembro-me de quando comecei a treinar no ano 2000 com o sensei Miguel Greg no Rio de Janeiro, por que desde pequeno sempre quis ser um “ninja”, na minha imaginação, e quando conheci do que se tratava o verdadeiro ninjutsu, fiquei maravilhado e percebi como era errada a minha idéia de “ninja”.Naquela época, víamos bastante kihon happo e diversas outras técnicas. Nunca vou esquecer da sensação de estar perdido no meio das técnicas, de estar muito duro e nada relaxado, e como depois de nove anos isso não mudou muito, apenas agora tenho uma idéia melhor de como movimentar e adptar meu corpo ao meu tamanho. No ano de 2004, conheci o Shihan Mike Simien, quando o mesmo dera uma aula no Rio de Janeiro, e nesse dia meu treinamento deu um outro salto, pois, foi a primeira vez que eu vi um Shihan se movimentando, e como foi bom assistir a isso, pois meus olhos estavam se abrindo ao verdadeiro caminho do Budô. Naquele dia, eu soube que queria treinar com o Shihan Mike e no ano seguinte me tornei seu aluno pessoal e também se formou uma amizade que tenho certeza será para a vida toda. Em janeiro de 2007, cheguei a graduação de Shodan, e pensei “nossa! acho que agora estou bom! ”, mas eu estava redondamente enganado. Demorou cerca de um ano para eu me acostumar com o fato de que era um faixa preta, e para dizer a verdade minha movimentação estava longe de ser considerada boa. Em 2 de maio de 2009 acredito que meu treinamento tenha dado um salto maior ainda, pois fui ao Taikai dos Shihans Arnaud Cousergue e Sven Eric Bogaster e olhando para eles, vejo o que é a verdadeira maestria. A noção que eles têm da manipulação do Kukan e como controlar um adversário é simplesmente fantástica, nunca vi nada igual na minha vida, principalmente por causa de Sven, que é um cara grande, meio gordinho, com seus 60 anos de idade e problemas nos seus dois joelhos e mesmo assim consegue se mover de uma forma que não da para acreditar, de tão flexível, fluído e habilidoso.


Acredito que fui abençoado nesse seminário, pois pude conversar bastante com Sven e principalmente com Arnaud, com quem tenho certeza que nasceu uma amizade verdadeira, já que , ao mesmo tempo em que ele ensinava, estava sempre brincando comigo, ou com meu filhinho de 8 meses, mostrando-me que quanto mais graduado é o budoka, mais humilde e simpático geralmente ele é. A movimentação do Arnaud não pode ser descrita em palavras, apenas estando perto e sentindo. Ele se move de uma maneira tão flexível, sem força, que te envolve todo e quando você percebe já caiu em três ou quatro técnicas dele. Seus golpes são tão fortes que quando você é atingido parece que vai morrer. Ele disse que o ninjutsu não é para fazer técnicas bonitas, mas sim para sobreviver. Lembro-me de que Sven nos disse para, quando estiver em uma luta, imaginar o seu adversário sangrando no chão todo destruído, e que em lutas reais e no treinamento o mais importante era ter a atitude correta, ou seja, a intenção. Se você consegue projetar a sua intenção, você corta a intenção do seu oponente, fazendo assim com que ele se perca, e acabe entregando a “vitória” a você. Arnaud explicou que a nossa arte, não é sobre ganhar, mas sim sobre não perder, isso significa que você deve sobreviver de todas as maneiras possíveis. A Bujinkan não é uma arte Omote, que se preocupa com o exterior, do tipo que faz reverências, com dojos bonitinhos e tradicionais, mas sim uma arte Ura, que valoriza o aspecto interior, ou seja o treinamento real voltado para a sobrevivência. Aprendi neste seminário, o quanto a minha jornada ainda é longa, o quanto tenho que estudar e treinar, para um dia poder ser considerado um verdadeiro budoka, pois estes Shihans estão perto do que a gente pode chamar de maestria, e como pude notar, isso não se consegue do dia para a noite, mas sim com uma vida inteira de treinamento, pois o Budô é um estudo sem fim. Lembro perfeitamente do Sven fazendo técnicas onde derrubava as pessoas sem tocá-las e eu lhe perguntei como ele conseguia fazer aquilo e ele me disse que: “Treinando! Apenas treine e um dia você vai ter confiança em suas habilidades e isso vai crescer naturalmente de você” .Arnaud no final da aula de instrutores, disse-nos que nos movíamos como uma bosta, e que havia um longo caminho ainda, mas para que continuássemos treinando , pois um dia estaríamos melhores. Ambos os Shihans enfatizaram que quando você estiver treinando, deve treinar com todo seu coração e sua dedicação, sendo que isto se chama “Kokoro no Shugyo” (Treinamento de Coração). Então no dia 2 de maio, foi um renascimento para mim e agradeço do fundo do coração a Arnaud, Sven e ao Mike por me mostrarem o verdadeiro caminho do Budô, que não é a força, mas sim a manipulação do espaço que vai te fazer um Budoka melhor, para não pensar em técnicas, como disse o Arnaud: “Movimente seu corpo e se o oponente reagir, faça uma técnica diferente, sempre adaptando, assim como em nossas vidas”.


por Américo Leite Neto

  

terça-feira, 28 de abril de 2009

Motivações, Desistências e Sinceridades

blog está há muito parado (tanto de escritores quanto de comentadores), e há não menos tempo eu me pergunto o por que, mas só agora que encontrei uma resposta para minha apatia resolvi levar a pergunta à vocês leitores.

Não, ninguém precisa se justificar – reabri este espaço para refletir, tanto eu quanto quem mais quiser, e vou tenta me ater aos treinos e ao Budo, falando um pouco de uma experiência recente.

Após 7 anos de treino já perdi a conta das vezes em que relaxei – faltei aulas, fui e não não me esforcei ou quando me esforcei era para justificar à minha consciência de noite, junto ao travesseiro. Da ultima vez meu mestre me chamou para conversar em particular e disse que se fosse para eu continuar a levar as coisas do jeito que estava levando eu podia ir embora. Foi duro ouvir isso, mas foi necessário. Novamente parei para medir as prioridades da minha vida, o que eu queria do treino, se valia a pena jogar fora todos estes anos de treino – se era certo abandonar o caminho agora que eu tinha conseguido encontrar a entrada. Para mim não valia, mas acredito que para alguns talvez valha.

Os caminhos na vida que valem a pena dificilmente são fáceis de seguir, e ficam ainda mais difíceis quando tem-se que dividir a mente com outras coisas como trabalho, escola, namorada(o)(ou esposa[o],) família etc. Não estou disposto a abrir mão dessas partes tão importantes da minha vida como no passado (e talvez hoje) alguns fizeram (ou façam), então tive que reorganizar minha vida, achar prioridades, abrir mão daquelas horas sem fazer nada (não todas), reduzir as saídas para as noitadas (tempo e dinheiro), mas essas eram as coisas mais fáceis de se fazer – o mais difícil se mostrou dentro da minha cabeça, encontrar a vontade para enfrentar horas apanhando e suando (não, nem sempre é divertido), para mover o traseiro ir até onde devia, sair do conforto de casa...

Estou num ritmo de crescimento bom novamente, consigo ver o que estou aprimorando quando treino, quando ando na rua, quando evito inconscientemente um problema, quando deveria ter tropeçado mas continuei andando... Sei que em breve terei algum desânimo - a experiência me mostrou que isso é cíclico: treinamos, nos empolgamos, aprendemos um monte de coisas, estagnamos, desanimamos e... E ou você toma uma atitude e volta para a parte inicial do processo ou para. A maioria para. Eu ainda não.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Convivendo com os mestres.

Por Davi Freitas

É certo e notório que ao longo de nossa caminhada como aprendizes, não é o professor que ensina, e sim nós alunos que aprendemos. Porém, é de suma importância termos um norteador, alguém que traga em sua bagagem a real experiência.
Encontrei grandes mestres no decorrer de minha trajetória, mas, não diferentes dos outros homens que permeiam este gigante mundo em que vivemos. Talvez, a maneira como aqueles lidavam com suas questões é que os faziam especiais. Um aluno me perguntou certa vez o que eu admirava mais em um homem. Respondi... [...]A maneira como se conduz sua sabedoria, continuei... Como disse-me um de meus mestres,[...] ser um guerreiro é fácil, difícil, é ser um bom ser humano.
Posso dizer também que encontrei muitos mestres que possuíam um caráter impulsivo, que viviam voltados apenas para o ego que os conduziam. Esses, pois são os falsos mestres... Aqueles que cultivam e se tornam escravos de suas próprias lendas.
É interessante analisarmos sob o aspecto da filosofia japonesa Zen, em que o verdadeiro mestre é aquele lhe provoca mortes, ou seja, mudanças.
Tenho um importante amigo que é mais do que um mestre. Ele me ensinou como dar os primeiros passos nesse incessante caminho do guerreiro. Ensinou-me, que vivemos em um mundo extremamente egoísta, e que estamos muito aquém de nossas capacidades.
Não devemos de maneira alguma nos entregar para qualquer sentimento que não seja o da vitória, mesmo que para isso nos importe algumas derrotas, dos confrontos internos... Pois dentro de nós habita sentimentos diversos, estes que poderão nos ascender, como poderão nos levar ao declínio. Não Como explicar esta ‘aparente’ contradição? Eu acredito que para vencer- mos, faz se necessário transcendermos as formas, ou tudo que se ponha como obstáculo.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Mandinga

O que é mandinga? Neste trecho do documentário "Mandinga em Manhattan" alguns mestres dizem o que pensam a respeito.

Um arte que surgiu no Brasil e que, de certa forma, foi uma resposta à uma realidade social nossa. Este arte de guerra é subestimada por muitos (inclusive entre nós da Bujinkan), mas estes por vezes se esquecem que nenhuma arte marcial existe pura e simplesmente, é sempre fruto de necessidades históricas de um ou mais sujeitos, e que tomam forma segundo a realidade que estes vivem.

Voltando à mandinga, essas explicações me lembraram muito alguns ensinamentos/preceitos do Ninpo - "o conhecimento do invisível", "negaça", "mentira permanente", "intangibilidade". Pretendo me informar mais sobre o assunto e futuramente, quem sabe, escrever mais o assunto.

Bufu Ikkan,
Daniel Pires


http://www.youtube.com/watch?v=lXs_MKJAbu4

sábado, 1 de novembro de 2008

Da Crueldade e da Piedade

Segue abaixo alguns trechos selecionados por mim do livro "O Príncipe", de Niccolò Machiavelli (Nicolau Maquiavel, no Brasil). Estamos sempre utilizando autores orientais para pensar artes marciais, como Myamoto Musashi e Sun Tzu, mas esquecemos que a guerra é, até onde me consta, comum à todos os povos, e talvez outros pensadores do lado de cá de Greenwich também tenham algo a nos ensinar.

Esta obra foi escrita pelo filósofo político Niccolò Machiavelli no século XVI, quando a península itálica vivia um período de intensa disputa política entre cinco potências locais: Ducado de Milão, a República de Veneza, a República de Florença, o Reino de Nápoles e os Estados Pontifícios; que incapazes de manter alianças políticas por muito tempo, deixavam o território a mercê de invasores estrangeiros, como era o caso dos franceses. Somado à estas efervescências políticas ainda temos o que foi chamado de Renascimento, quando valores e práticas pagãs voltam à cena, e o conflito com o cristianismo era inevitável.

Em meio à esta confusão Machiavelli escreve o que alguns chamariam de "Manual para Unificação da Itália", mas que ele preferiu intitular apenas como "Il Principe", onde avalia e comenta as ações de líderes políticos e generais, fazendos considerações sobre o que é positivo ou não em determinadas situações. É atribuída à esta obra a frase(ou a sugestão da mesma) "Os fins justificam os meios", mas isso é no mínimo controverso, dado que uma ética (cristã) permeia muitas das falas do autor. Mas vamos ao que interessa:

"Continuando com as demais qualidades antes mencionadas, digo que todo príncipe deve desejar ser considerado piedoso e não cruel; entretanto, deve cuidar-se para não usar mal esta piedade.(...) Um príncipe deverá, portanto, não se preocupar com a fama de cruel se desejar manter seus súditos unidos e obedientes. Dando pouquíssimos exemplos necessários, será mais piedoso do que aqueles que, por excessiva piedade, deixam evoluir as desordens, das quais resultam assassínios e rapinas(...)

Contudo, o príncipe deve ser ponderado em seu pensamento e ação, não ter medo de sí mesmo e proceder de forma equilibrada, com prudência e humanidade, para que a excessiva confiança não o torne incauto, nem a exagerada desconfiança o faça intolerável.

Surge daí uma questão: é melhor ser amado que temido ou o inverso? A resposta é que seria de desejar ser ambas as coisas, mas, como é difícil combiná-las, é muito mais seguro ser temido do que amado, quando se tem de desistir de uma das duas. Isto porque geralmente se pode afirmar o seguinte acerca dos homens: que são ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar e, enquanto lhes fizerem bem, pertencem inteiramente a ti, te oferecem o sangue, o patrimônio, a vida e os filhos, como disse acima, desde que o perigo esteja distante; mas, quando precisas deles, revoltam-se. O príncipe que se apóia inteiramente em suas palavras, descuidando-se de outras precauções, se arruína, porque as amizades que se obtêm mediante pagamento, e não com a grandeza e nobreza de ânimo, se compram, mas não se possuem, e, no devido tempo, não podem ser usadas. Os homens têm menos receio de ofender a que se faz amar do que a outro que se faça temer; pois o amor é mantido por vínculo de reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é rompido sempre que lhes interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao castigo, que nunca te abandona.

Deve contudo o príncipe fazer-se temer de modo que, se não conquistar o amor, pelo menos evitará o ódio, pois é perfeitamente possível ser temido e não ser odiado ao mesmo tempo(...)

Quando, porém, o príncipe está em campanha, no comando de uma infinidade de soldados, nã precisa absolutamente se preocupar com a fama de cruel, porque, sem esta fama, jamais se mantém um exército unido e disposto à ação.(..)

Assim, voltando à questão sobre ser temido e amado, concluo que, como os homens amam segundo sua vontade e temem segundo a vontade do príncipe, deve este contar com o que é seu e não com o que é de outros, empenhando-se apenas em evitar o ódio, como dissemos."

Referência Bibliográfica:

MAQUIAVEL, Nicolau; O Príncipe; Ed. Martins Fontes; Terceira Edição; São Paulo-SP; 2004; pp79-82

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Ninjutsu Hiketsu Bun

(Essência do Ninjutsu)
A essência de todas as artes marciais e estratégias militares são a autodefesa e a prevenção do perigo. O Ninjutsu resume o mais completo conceito de autodefesa, não apenas do corpo físico, mas também da mente e do espírito. O caminho do Ninja é o caminho da resistência, da sobrevivência e da prevalescência sobre tudo o que pode destruí-lo. Mais do que meramente uma distribuição golpes e cortes, e mais profundamente no significado do que simplesmente se livrar de um inimigo, o Ninjutsu é o caminho para alcançar aquilo que nós precisamos para fazer um mundo melhor. A técnica do Ninja é a arte de vencer.
No início do estudo de qualquer arte marcial combativa, auto-motivação é crucial. Sem estrutura da própria mente, a contínua exposição às técnicas de luta pode levar à ruína ao invés do auto-desenvolvimento. Mas este fato não é diferente de qualquer outra prática benéfica na vida levada ao extremo. A ciência médica é dedicada a melhorar a saúde e aliviar o sofrimento, e ainda o mal uso de drogas e as exultações das habilidades físicas podem levar as pessoas, a um estado onde a saúde de um indivíduo não esteja mais sob seu controle. Uma dieta nutritiva bem balanceada funciona para manter uma pessoa viva, ativa e saudável, mas comer e beber exageradamente ou tomar muita química, é o caminho certo para envenenar o corpo. Os governos têm estabelecido a harmonia de trabalho entre todas as partes da sociedade, mas quando os governantes tornam-se ambiciosos, famintos por poder, ou carentes de sabedoria, o país é sujeito às guerras desnecessárias, desordem ou caos civil e econômico. Uma religião, quando baseada na fé desenvolvida através da experiência, exterior e interior, e na busca incessante do entendimento universal, é inspiração e conforto para as pessoas. Uma vez que uma religião perde seu foco original, entretanto, ela se torna uma coisa mortal com capacidade para enganar, controlar e cobrar as pessoas através da manipulação de suas crenças e medos. É o mesmo com as artes marciais. As habilidades de autodefesa que deveriam prover paz interior e segurança para o artista marcial, então frequentemente desenvolvem-se sem um balanço na personalidade e levam o menor artista marcial para domínios distorcidos de conflito incessante e competição, que eventualmente acabam por consumi-lo.
Se um praticante de artes combativas persegue sinceramente a essência do Ninjutsu, destituído das influências dos desejos do ego, esse estudante progressivamente virá a alcançar o último segredo para se tornar invencível - a obtenção "da mente e olhos do divino". O combatente que venceria deve estar em harmonia com o plano da totalidade, e deve ser guiado por um conhecimento intuitivo de lidar com o destino. Em sintonia com a providência do paraíso e a justiça imparcial da natureza, e seguindo um coração limpo e puro, cheio de crença no inevitável, o Ninja captura a visão que o guiará vitoriosamente na batalha quando ele deve conquistar e o ocultará protetoramente da hostilidade quando ele deve consentir. O vasto universo, belo na sua fria e total impessoalidade, contém tudo o que nós chamamos de bom e ruim, todas as respostas para todos os paradoxos que nós vemos ao nosso redor. Abrindo seus olhos e sua mente, o Ninja pode seguir responsavelmente as astutas estações e razões do paraíso, mudando apenas o que for necessário, adaptando sempre, assim sendo que no fim não há tal coisa como uma surpresa para o Ninja.



Toshitsugu Takamatsu