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terça-feira, 19 de maio de 2015

Maneiras no Dojo

Este texto foi postado por Mark Lithgow em seu mural no Facebook:

Mark Lithgow shihan, no dojo da Shin Kage Ryu
A todos os meus amigos Bujinkan:

Semana passada tive uma conversa com Soke sobre "modos de dojo", e ele disse que era importante transmitir essas coisas a todos os membros da Bujinkan Dojo. Hoje, domingo, 10 de maio de 2015, durante a aula ele solicitou que eu ensinasse isso à todos os presentes.

A etiqueta do dojo pode variar de escola para escola, e até mesmo de dentro de uma mesma escola, como no caso da Bujinkan. Muitas vezes ela é aprendida simplesmente observando outras pessoas que a conhecem melhor. Infelizmente  nos dias de hoje temos tido tantas pessoas no novo Honbu Dojo, e como a maioria destas pessoas é nova, ela não têm muitos bons exemplos para observar e aprender como as coisas devem ser feitas. Muitas vezes senti a necessidade de intervir, e fazer as vezes de "polícia das boas maneiras". Por vezes sinto-me um pouco mal fazendo isso, mas por outro lado este dojo também é minha casa. Sou parte deste dojo, não um visitante, e tenho sido por quase três décadas. Na verdade é meu "dever" instruir os visitantes sobre como se comportar em meu dojo.

Quando discutia isso com Sensei, logo tornou-se evidente que este tema o afeta bastante. Ele pode parecer tranquilo quanto a essas coisas, mas por dentro ele espera que as pessoas tenham boas maneiras e respeita as que têm. Ele também sente que não é sua tarefa ensinar ou reforçar a etiqueta, e está correto. Como Soke, ele deve ir até seu dojo, ensinar e ir embora. O funcionamento geral do local, limpeza e a manutenção, devem ser feito por outros. Isso também vale para coisas como o uso correto da etiqueta. Ele disse  que os shihan devem lidar com isso, e graças a minha experiência em dojo de outras artes, sei como um dojo DEVERIA ser tratado. Aparentemente, por essa razão, sou a "pessoa perfeita para transmiti-lo". =)

Hoje ele disse hoje, quando voltou para sua casa após o treinamento:
Como podemos esperar sermos levado a sério pelo mundo das artes marciais japonesas, se a nossa etiqueta básica dojo é tão relaxada?
A pedido do Soke falei hoje sobre três pontos no dojo. Provavelmente outros surgirão, mas já é um bom começo. Também sinto que terei que repetir o aviso mais vezes, até que haja exemplos suficientes para os novos visitantes aprenderem e para estas maneiras tornarem-se parte real da nossa cultura de dojo. Este pontos podem parecer muito básicos e na verdade são apenas bom senso para muitas pessoas, mas pelo que temos visto recentemente eles não o são para todos e devem ser abordados.

1 - Curvar-se para entrar e sair do dojo



Curvar-se quando entrar e sair de um dojo no Japão é "senso comum". Você verá este costume ser praticado também fora do dojo, em lugares como supermercados e lojas de departamento. Funcionários quando deixam o chão da fábrica, seja para uma pausa ou no final de seu turno, diante da porta onde pode-se ler  "Apenas pessoas autorizadas", viram-se e curvam-se ao local antes de passar pela porta. Eu mesmo tenho que admitir que às vezes, no antigo Hombu Dojo, fui preguiçoso e negligente com o ato de curvar.

Quando o novo dojo estava em construção comentei isso com Soke, dizendo-lhe que, embora algumas vezes tenha sido preguiçoso, havia criado uma nova regra para mim para depois que o novo dojo foi aberto. Tivemos uma longa conversa sobre isso, que continuou na semana passada. Para ele, curvar-se quando entra no dojo é essencial para mostrar respeito ao lugar. Para o Sensei até mesmo curvar-se duas vezes não seria ruim: a primeira vez ao entrar do prédio e mais uma vez ao entrar no dojo propriamente dito, nos tatami. Seguindo a conversa ele disse que curvar-se na entrada do prédio é opcional, mas curvar-se ao entrar na área de treino é essencial.

Ao cruzar o limiar, pare, curve-se, espere um pouco e então adentre o dojo

Nesse momento você está deixando o mundo exterior para trás e entra em "modo de treinamento". O mesmo se dá ao ao sair. Pare e curve-se. Tome um momento para refletir sobre o fato de que você saiu de lá com segurança, e está prestes a voltar para o mundo real.

Só é necessário fazer isso uma vez ao entrar e uma vez ao sair. Se você vai sair para pegar algo em sua bolsa ou para usar o banheiro não é necessário curvar-se. Apenas quando entrar e sair do "modo de treinamento".

2 - Sapatos devem ser deixados na entrada



Isto baseia-se numa idéia simples:
Dentro é dentro e fora é fora. Os dois lugares devem ser mantidos separados.
Quando estamos treinando no dojo vestimos calçados apropriados para ambientes interiores, geralmente tabi, que podem ter solados de pano ou de couro. Tabi com solados de borracha, conhecidos como jika tabi são para ambientes externos, e NUNCA deve ser usado no dojo!

Calçados de interior são para ambientes internos. Calçados de exterior são para ao ar livre e devem ser calçados SOMENTE ao ar livre.

As placas de madeira no chão sobre a genkan (entrada) formam o limite entre os espaços e são consideradas parte interna. Algumas semanas atrás encontrei um monte de sapatos sobre as placas. Se você estiver usando tabi (para ambiente interno), não as suje indo para fora para, em seguida, levar a sujeira para dentro. Se você quer ir lá fora fumar um cigarro rápido, por favor ponha seus sapatos. Novamente, uma vez que seu tabi ter pisado fora, por favor, não traga a sujeira o dojo! E ao tirar os sapatos não pise fora para então subir. Tire os pés dos seus sapatos direto para o piso do dojo! A entrada no novo dojo é um pouco pequena e às vezes não há muita escolha a não ser dar um passo ou dois do lado de fora, mas por favor tentem evitar esta situação.

3 - A parede Shômen


Shômen do antigo Hombu Dojo
A parede shômen (frontal) é onde fica o kamiza que é considerada parte sagrada do dojo, a qual deve-se respeito.

Não é um lugar para se colocar objetos pessoais. Nada exceto o que pertence àquele lugar deve ser colocado sobre a prateleira.

No novo dojo, sob o kamiza, há um piso de madeira como uma alcova, que é usado para colocar estátuas etc, mas deve ser tratado da mesma maneira que o altar. Não é lugar para as bolsas e bebidas. E certamente não é para as pessoas andarem, ficarem em é ou sentarem-se. Na verdade toda a parede frontal deve ser tratada da mesma maneira. No novo dojo temos, além das áreas mencionadas, o restante da parede ocupado com armários para guardar as armas utilizadas no treinamento, mas mesmo no antigo dojo, onde havia algum espaço sobrando de cada lado, a regra era que nenhum objeto pessoal deveria ser colocado contra a parede frontal. As paredes laterais, ok, mas não na parede da frente, que é considerado como uma extensão do próprio kamiza.

Os pontos acima foram os mencionados hoje, mas um gostaria de adicionar outros referentes a coisas que observei hoje as quais sinto merecerem uma menção:

Primeiro, quando uma técnica está sendo mostrada no meio do dojo, por favor, esteja ciente de seus arredores e mostre alguma consideração com outras pessoas que também estão tentando ver o que está sendo mostrado. Se você encontra-se junto a parede ou não há ninguém atrás de você, pode permanecer de pé, mas se você olhar por cima dos ombros e notar que as pessoas atrás de você não conseguem ver direito, por favor, agache-se ou ajoelhe-se. Hoje estava traduzindo e nestas situações tento ficar um pouco mais perto de Sensei, porém costumo ficar sempre à frente, ajoelhado, nunca na parte de trás, e mesmo assim haviam pessoas pé na minha. Um pouco de consideração, por favor!

Segundo, se você já usou armas do dojo durante o treinamento: rokushakubo, hanbo, fukuro shinai etc, por favor, coloque-os de volta no lugar. Há sempre pessoas que aspiram o chão após o treinamento (voluntários são sempre apreciados, por sinal!) e não é trabalho deles guardar suas armas!

Enfim, só queria que o povo do Facebook soubessem o que foi dito no Honbu Dojo hoje. Esperamos que isto também ajude a aumentar a atenção à etiqueta para pessoas que visitem o Dojo futuramente.

Este texto foi traduzido por mim, Daniel Pires, após comunicar o autor.
Realizei algumas modificaçães apenas buscando maior fluência
no português, mas logo no início há um link para a postagem
original.

terça-feira, 14 de abril de 2015

O Piso Rouxinol

O Piso Rouxinol, ou uguisubari (鴬張り), foram projetados para fazer sons parecidos com gorjeios quando alguém anda sobre eles. Estes pisos foram usados nos corredores de alguns templos e palácios, sendo o exemplo mais famoso o Castelo Nijo, em Kyoto. Tábuas secas naturalmente rangem sob pressão, mas estes pisos foram feitos de maneira que as tábuas esfregassem-se com as jaquetas ou os grampos que as prendem ao chão, fazendo um som de gorjeio ou um chilrear. Estes pisos que rangem foram utilizados como um dispositivo de segurança, assegurando que ninguém poderia andar pelos corredores sem ser detetado.

Rouxinol refere-se à uma variedade japonesa de toutinegra, o uguisu:


Enquanto andava nos halls do Castelo Nijo Sr. Hoffer, Sr. Ellis e eu percebemos o ranger e notamos que era um piso rouxinol. Depois de ouvir um pouco os sons que faziam as pessoas à nossa volta e o ranger do piso, resolvi mudar minha forma de caminhar. Tai sabaki. Utilizei yoko aruki e a forma lateral de caminhar. Sr. Hoffer notou três japoneses mais velhos que estavam visitando apontando para mim, não os notei na hora pois estava concentrado observando e ouvindo as tábuas sob meus pés. Ele se referiam a mim como "ninja". Sr. Hoffer me disse depois o que aconteceu. Foi bem legal perceber que o treinamento que o Shihan Michael Simien me deu valeu muito a pena, fui capaz de antar pelo piso sem fazer um som sequer. E ser notado por anciões japoneses e depois ver seus sorrisos também aqueceu o coração.

Autor: Chris Cowan
Tradutor: Daniel Pires