Site Oficial do Butoku Dojo Brasil

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Reflexões pós Taikai 2009 – Shihans Arnaud Cousergue e Sven Bogaster


Depois de nove anos treinando no sistema Bujinkan Budo Taijutsu, acredito que meu treinamento tenha atingido um outro nível de percepção. Lembro-me de quando comecei a treinar no ano 2000 com o sensei Miguel Greg no Rio de Janeiro, por que desde pequeno sempre quis ser um “ninja”, na minha imaginação, e quando conheci do que se tratava o verdadeiro ninjutsu, fiquei maravilhado e percebi como era errada a minha idéia de “ninja”.Naquela época, víamos bastante kihon happo e diversas outras técnicas. Nunca vou esquecer da sensação de estar perdido no meio das técnicas, de estar muito duro e nada relaxado, e como depois de nove anos isso não mudou muito, apenas agora tenho uma idéia melhor de como movimentar e adptar meu corpo ao meu tamanho. No ano de 2004, conheci o Shihan Mike Simien, quando o mesmo dera uma aula no Rio de Janeiro, e nesse dia meu treinamento deu um outro salto, pois, foi a primeira vez que eu vi um Shihan se movimentando, e como foi bom assistir a isso, pois meus olhos estavam se abrindo ao verdadeiro caminho do Budô. Naquele dia, eu soube que queria treinar com o Shihan Mike e no ano seguinte me tornei seu aluno pessoal e também se formou uma amizade que tenho certeza será para a vida toda. Em janeiro de 2007, cheguei a graduação de Shodan, e pensei “nossa! acho que agora estou bom! ”, mas eu estava redondamente enganado. Demorou cerca de um ano para eu me acostumar com o fato de que era um faixa preta, e para dizer a verdade minha movimentação estava longe de ser considerada boa. Em 2 de maio de 2009 acredito que meu treinamento tenha dado um salto maior ainda, pois fui ao Taikai dos Shihans Arnaud Cousergue e Sven Eric Bogaster e olhando para eles, vejo o que é a verdadeira maestria. A noção que eles têm da manipulação do Kukan e como controlar um adversário é simplesmente fantástica, nunca vi nada igual na minha vida, principalmente por causa de Sven, que é um cara grande, meio gordinho, com seus 60 anos de idade e problemas nos seus dois joelhos e mesmo assim consegue se mover de uma forma que não da para acreditar, de tão flexível, fluído e habilidoso.


Acredito que fui abençoado nesse seminário, pois pude conversar bastante com Sven e principalmente com Arnaud, com quem tenho certeza que nasceu uma amizade verdadeira, já que , ao mesmo tempo em que ele ensinava, estava sempre brincando comigo, ou com meu filhinho de 8 meses, mostrando-me que quanto mais graduado é o budoka, mais humilde e simpático geralmente ele é. A movimentação do Arnaud não pode ser descrita em palavras, apenas estando perto e sentindo. Ele se move de uma maneira tão flexível, sem força, que te envolve todo e quando você percebe já caiu em três ou quatro técnicas dele. Seus golpes são tão fortes que quando você é atingido parece que vai morrer. Ele disse que o ninjutsu não é para fazer técnicas bonitas, mas sim para sobreviver. Lembro-me de que Sven nos disse para, quando estiver em uma luta, imaginar o seu adversário sangrando no chão todo destruído, e que em lutas reais e no treinamento o mais importante era ter a atitude correta, ou seja, a intenção. Se você consegue projetar a sua intenção, você corta a intenção do seu oponente, fazendo assim com que ele se perca, e acabe entregando a “vitória” a você. Arnaud explicou que a nossa arte, não é sobre ganhar, mas sim sobre não perder, isso significa que você deve sobreviver de todas as maneiras possíveis. A Bujinkan não é uma arte Omote, que se preocupa com o exterior, do tipo que faz reverências, com dojos bonitinhos e tradicionais, mas sim uma arte Ura, que valoriza o aspecto interior, ou seja o treinamento real voltado para a sobrevivência. Aprendi neste seminário, o quanto a minha jornada ainda é longa, o quanto tenho que estudar e treinar, para um dia poder ser considerado um verdadeiro budoka, pois estes Shihans estão perto do que a gente pode chamar de maestria, e como pude notar, isso não se consegue do dia para a noite, mas sim com uma vida inteira de treinamento, pois o Budô é um estudo sem fim. Lembro perfeitamente do Sven fazendo técnicas onde derrubava as pessoas sem tocá-las e eu lhe perguntei como ele conseguia fazer aquilo e ele me disse que: “Treinando! Apenas treine e um dia você vai ter confiança em suas habilidades e isso vai crescer naturalmente de você” .Arnaud no final da aula de instrutores, disse-nos que nos movíamos como uma bosta, e que havia um longo caminho ainda, mas para que continuássemos treinando , pois um dia estaríamos melhores. Ambos os Shihans enfatizaram que quando você estiver treinando, deve treinar com todo seu coração e sua dedicação, sendo que isto se chama “Kokoro no Shugyo” (Treinamento de Coração). Então no dia 2 de maio, foi um renascimento para mim e agradeço do fundo do coração a Arnaud, Sven e ao Mike por me mostrarem o verdadeiro caminho do Budô, que não é a força, mas sim a manipulação do espaço que vai te fazer um Budoka melhor, para não pensar em técnicas, como disse o Arnaud: “Movimente seu corpo e se o oponente reagir, faça uma técnica diferente, sempre adaptando, assim como em nossas vidas”.


por Américo Leite Neto