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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Mandinga

O que é mandinga? Neste trecho do documentário "Mandinga em Manhattan" alguns mestres dizem o que pensam a respeito.

Um arte que surgiu no Brasil e que, de certa forma, foi uma resposta à uma realidade social nossa. Este arte de guerra é subestimada por muitos (inclusive entre nós da Bujinkan), mas estes por vezes se esquecem que nenhuma arte marcial existe pura e simplesmente, é sempre fruto de necessidades históricas de um ou mais sujeitos, e que tomam forma segundo a realidade que estes vivem.

Voltando à mandinga, essas explicações me lembraram muito alguns ensinamentos/preceitos do Ninpo - "o conhecimento do invisível", "negaça", "mentira permanente", "intangibilidade". Pretendo me informar mais sobre o assunto e futuramente, quem sabe, escrever mais o assunto.

Bufu Ikkan,
Daniel Pires


http://www.youtube.com/watch?v=lXs_MKJAbu4

sábado, 1 de novembro de 2008

Da Crueldade e da Piedade

Segue abaixo alguns trechos selecionados por mim do livro "O Príncipe", de Niccolò Machiavelli (Nicolau Maquiavel, no Brasil). Estamos sempre utilizando autores orientais para pensar artes marciais, como Myamoto Musashi e Sun Tzu, mas esquecemos que a guerra é, até onde me consta, comum à todos os povos, e talvez outros pensadores do lado de cá de Greenwich também tenham algo a nos ensinar.

Esta obra foi escrita pelo filósofo político Niccolò Machiavelli no século XVI, quando a península itálica vivia um período de intensa disputa política entre cinco potências locais: Ducado de Milão, a República de Veneza, a República de Florença, o Reino de Nápoles e os Estados Pontifícios; que incapazes de manter alianças políticas por muito tempo, deixavam o território a mercê de invasores estrangeiros, como era o caso dos franceses. Somado à estas efervescências políticas ainda temos o que foi chamado de Renascimento, quando valores e práticas pagãs voltam à cena, e o conflito com o cristianismo era inevitável.

Em meio à esta confusão Machiavelli escreve o que alguns chamariam de "Manual para Unificação da Itália", mas que ele preferiu intitular apenas como "Il Principe", onde avalia e comenta as ações de líderes políticos e generais, fazendos considerações sobre o que é positivo ou não em determinadas situações. É atribuída à esta obra a frase(ou a sugestão da mesma) "Os fins justificam os meios", mas isso é no mínimo controverso, dado que uma ética (cristã) permeia muitas das falas do autor. Mas vamos ao que interessa:

"Continuando com as demais qualidades antes mencionadas, digo que todo príncipe deve desejar ser considerado piedoso e não cruel; entretanto, deve cuidar-se para não usar mal esta piedade.(...) Um príncipe deverá, portanto, não se preocupar com a fama de cruel se desejar manter seus súditos unidos e obedientes. Dando pouquíssimos exemplos necessários, será mais piedoso do que aqueles que, por excessiva piedade, deixam evoluir as desordens, das quais resultam assassínios e rapinas(...)

Contudo, o príncipe deve ser ponderado em seu pensamento e ação, não ter medo de sí mesmo e proceder de forma equilibrada, com prudência e humanidade, para que a excessiva confiança não o torne incauto, nem a exagerada desconfiança o faça intolerável.

Surge daí uma questão: é melhor ser amado que temido ou o inverso? A resposta é que seria de desejar ser ambas as coisas, mas, como é difícil combiná-las, é muito mais seguro ser temido do que amado, quando se tem de desistir de uma das duas. Isto porque geralmente se pode afirmar o seguinte acerca dos homens: que são ingratos, volúveis, simulados e dissimulados, fogem dos perigos, são ávidos de ganhar e, enquanto lhes fizerem bem, pertencem inteiramente a ti, te oferecem o sangue, o patrimônio, a vida e os filhos, como disse acima, desde que o perigo esteja distante; mas, quando precisas deles, revoltam-se. O príncipe que se apóia inteiramente em suas palavras, descuidando-se de outras precauções, se arruína, porque as amizades que se obtêm mediante pagamento, e não com a grandeza e nobreza de ânimo, se compram, mas não se possuem, e, no devido tempo, não podem ser usadas. Os homens têm menos receio de ofender a que se faz amar do que a outro que se faça temer; pois o amor é mantido por vínculo de reconhecimento, o qual, sendo os homens perversos, é rompido sempre que lhes interessa, enquanto o temor é mantido pelo medo ao castigo, que nunca te abandona.

Deve contudo o príncipe fazer-se temer de modo que, se não conquistar o amor, pelo menos evitará o ódio, pois é perfeitamente possível ser temido e não ser odiado ao mesmo tempo(...)

Quando, porém, o príncipe está em campanha, no comando de uma infinidade de soldados, nã precisa absolutamente se preocupar com a fama de cruel, porque, sem esta fama, jamais se mantém um exército unido e disposto à ação.(..)

Assim, voltando à questão sobre ser temido e amado, concluo que, como os homens amam segundo sua vontade e temem segundo a vontade do príncipe, deve este contar com o que é seu e não com o que é de outros, empenhando-se apenas em evitar o ódio, como dissemos."

Referência Bibliográfica:

MAQUIAVEL, Nicolau; O Príncipe; Ed. Martins Fontes; Terceira Edição; São Paulo-SP; 2004; pp79-82