Site Oficial do Butoku Dojo Brasil

terça-feira, 20 de maio de 2014

Buyu

Com frequência me perguntam:

“Você ensina autodefesa?"

E sempre sorrio com a pergunta. Sou da opinião que nós, seres humanos, nascemos com os instintos básicos, adequados para nos defender, e equivalentes à nossa idade e tamanho. Por exemplo: Bebê = grita por socorro, Criança = grita por socorro e corre (fuga), Adulto = grita por socorro, corre (fuga) e revida (luta). Também nascemos com a capacidade de aprender observando os movimentos dos outros, que devem estar alinhados com os dos nossos pais e outros membros da nossa tribo (nossa família e amigos, por exemplo).

O primeiro problema que encontramos no mundo moderno é que o aprendizado sobre se defender contra os ataques na realidade não existe. Este aprendizado ou é feito de forma incorreta ou feito a partir de posições em que não se pode atacar uma pessoa com eficácia.

Creio que a causa é que a maioria dos professores da chamada "autodefesa" não sabem como atacar alguém efetivamente, ou não ensinam os alunos que estão fazendo o o papel do atacante como fazê-lo corretamente. Instrutores e estudantes, atenção, vocês não podem aprender como sobreviver a um encontro perigoso praticando com um atacante que não sabe sequer como atacar de verdade ou de maneira realista

No entanto, a solução para isso é simples: aprenda a atacar ou convidae um instrutor de outro dojo (até mesmo de um outro estilo) que tenha a experiência necessária para lhe ensinar. Atacar e defender faz parte de todas as artes de guerra. É uma regra fundamental da lógica marcial de sobrevivência aprender o uso adequado de estratégias de ataque e de defesa. Faça desta regra parte do seu dojo se você se preocupa com seus alunos e consigo mesmo.

Você reage da maneira que treina.

Bufu Ikkan,
Michael Simien
Tradutor: Daniel Pires Shidoshi

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Takagi Yoshin Ryū Jutaijutsu - Escola da Árvore Alta e do Coração Elevado


Breve história

"Um salgueiro é flexível, mas uma árvore alta é frágil."


Em 1569, durante a Era Yeiroku (1568-1579), na região de Yama Funagata, em Miyagi, viveu um sacerdote da montanha(Yamabushi) da família Abe chamado Unryu (Dragão das Nuvens). O Bugei Ryūha Daijiten lhe dá o nome de Sounryu. Ele era um especialista em shuriken, bojutsu, yari, naginata e taijutsu do Rinpo Amatsu Tatara Makimono Hiden. O denshō (pergaminho) Amatsu Tatara foi mantido por Abe, Nakatomi, Otomo, e as famílias Monobe. Família de Takamatsu Sensei também possuiu uma cópia, através de sua relação de sangue com a família Kuki. Unryu ensinou Sukesada Ito, um famoso artista marcial de seu tempo (meados do século XVI). Ele era um samurai de Katakura Kojūrō, na província de Fukushima. Ele acrescentou hanbo, kenjutsu e kodachi aos ensinamentos de Unryu e ensinou à Takagi Oriuemon Shigenobu (um jovem samurai do han Tohoku-Shiroichi, em Oku, norte do Japão) as técnicas que mais tarde se tornariam Takagi Yoshin Ryū. Este recebeu o Menkyo Kaiden quando ele tinha apenas 20 anos de idade. No 15 de agosto de 1695, foi nomeado shihan de seis diferentes escolas marciais da guarda imperial, pelo Imperador Higashiyama.

Takagi Oriuemon Shigenobu revisou, ampliou e aprimorou as técnicas que aprendeu com Sukesada Ito, e colocou juntos no que veio a se chamar Takagi Yoshin Ryū  a "Escola da Árvore Alta e do Coração Elevado" ou "Escola do Coração do Salgueiro" . O estilo foi chamado de muitas coisas ao longo de sua história, incluindo Jutaijutsu, Jujutsu, e Dakentaijutsu. Foi fortemente influenciado por Takenouchi Ryū Jujutsu, e Kukishin Ryū. No século 17, o soke de Takagi Yoshin Ryū  Takagi Gennoshin Hideshige, e o soke de Kukishin Ryū, Ohkuni Kihei Shigenobu, travaram um duelo amistoso e se tornaram amigos íntimos. Os estilos trocaram ensinamentos e se reestruturaram, e a partir disso seguiram sua história próximos.

A linha sucessória de soke é:

Unryu
Ito Kii Sukesada
Takagi, Oriuemon Shigetoshi (1625-1711)
Takagi, Umannosuke Shigesada (1655-1746)
Takagi, Gennoshin Hideshige (?-1702)
Ohkuni, Kihei Shigenobu Genroku (1688)
Ohkuni, Yakuburo Nobutoshi
Ohkuni, Tarodayu Tadanobu
Ohkuni, Kihei Yoshisada
Ohkuni, Yozaemon Yoshisada
Nakayama, Jinnai Sadahide
Ohkuni, Takezaemon Hidenobu
Nakayama, Kaemon Sadasaka
Ohkuni, Kamahura Hidetoshi
Yagi, Ikugoro Hisayashi Tempo (1830-1844)
Fujita, Fujigoro Hisayoshi
Mizuta, Yoshitaro Tadefusa
Takamatsu, Toshitsugu (1887-1972 )
Hatsumi, Masaaki (1931)

Características

"Suave como algodão, duro como um relâmpago; coragem para vencer dez mil homens."

Esta escola é famosa na Bujinkan como a "Escola de Guarda-Costas", com técnicas de jujutsu rápidas e eficazes, e daisho sabaki (jujutsu utilizando o daishō) especializado em espaços pequenos, como corredores. Também utiliza de armas longas como Rokushaku Bo e Yari nestes espaço restritos. Praticantes da Takagi Yoshin Ryū utilizam seus conhecimentos de Kyushō e Taijutsu para mover o protegido.

Suas técnicas de torções e arremesso tem como características movimentos otoshi, que impedem o adversário de escapar com rolamentos. Essa característica tem a ver com eliminar o mais rápido possível - pois está se pensando em proteger alguém - e com o espaço restrito e que a atividade de guarda-costas geralmente acontecia (dentro de castelos, especialmente).

Kyushō da Takagi Yoshin Ryū




quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Hôken é Kenpô



Após este primeiro seminário dedicado à espada chinesa¹ pensei que pudesse compartilhar com vocês algumas das minhas descobertas. Eu estou apenas começando a entender o poder desta arma fantástica e ainda tenho que muito o que treinar para desvendar sua riqueza. Desde o seminário tenho treinado todos os dias por meia hora nos movimentos particulares desta nova lâmina. Eu também tentei entender o que alguns dos meus amigos compartilharam comigo a partir do que aprenderam no Japão desde o início do tema deste ano.


Alguns pontos-chave e descobertas para ajudar a sua prática:

  1. Não treine com uma espada japonesa (de madeira ou metal), esta não irá permitir que você tenha a sensação correta de como mover-se com esta arma. O comprimento é também diferente, e não há qualquer curva (sori).
  2. Ainda que o Sensei² tenha dito que não há kamae nem técnicas de Ken, ele continua usando alguns Kamae típicos, tais como: Shizen, Hira Ichimonji, Tôtoku Yôshi, Ichimonji. Tente-os - eles irão ajudá-lo em sua compreensão.
  3. Movimentos corporais semelhantes ao Aruki Juji da Gyokko Ryu podem ser amplamente utilizados para libertar a lâmina reta e criar um movimento curvo.
  4. A direção não é importante, a lâmina pode golpar para frente, para trás, de maneira reversa ou mesmo por trás. Pare de pensar como um Samurai! Esta lâmina foi criada pelo menos 20 séculos antes da Katana!
  5. O elevado peso da lâmina muda completamente a maneira de mover o corpo. É hora de alcançar um corpo flexível e realmente abaixar os quadris. Isso é de suma importância.
  6. A lâmina "guia"" o corpo, mas os movimentos deste libertam a lâmina e permitem que ela "puxe" o corpo. Pense nisso como o Yinyang, o magnetismo ou ação quântica: ambos estão alimentando um ao outro.
  7. O Ken é a origem das técnicas dos movimentos com Tachi, usar estes movimentos de Tachi lhe ajuda a chegar mais perto do sentimento adequado para Ken
  8. Ao contrário de espadas japonesas, a Ken é reta e possui dois gumes: não se corte quando você colocar a lâmina de volta na bainha!
  9. A Ken é pesada (mais do que uma espada japonesa normal) por isso tome cuidado para não bater em si mesmo ao fazer o Furi³ (isto aconteceu comigo durante o treino*).
  10. A Ken muda facilmente de uma mão para outra, como se fosse um Hanbo. Não pense em "espada", não pense, mova-se!
  11. A Ken, assim como a Tachi, é utilizada principalmente para estocar, cortar não é a melhor escolha (a lâmina  é reta). A estocada é feita com o corpo inteiro, muitas vezes em uma espécie de movimento Sanshin.
  12. Se você tiver que cortar com a Ken, faça-o com o corpo todo, como no Taijutsu regular. Mova as pernas!
  13. Não pense num movimento, deixe o corpo fazê-lo e que a lâmina vai tornar-se viva.
  14. Use a bainha (é sólida) para se esquivar dos ataques ou para ajudar nos contra-ataques.
  15. Treine o Sanshin com a Ken. Sensei aparentemente disse que o nosso "Sanshin no Kata" havia sido desenvolvido para este tipo de chinês de espada(Ken).
  16. O movimento Sanshin é importante quando se utiliza a Ken. Treine os cinco elementos com a Ken. Quando você fizer isso você irá achar incrível o quão lógicos são estes movimentos com este tipo de espada. Pelo menos eu achei.
  17. Use seus ante-braços para mover a lâmina pesada. Lembre-se disto é principalmente Katate, como nos movimentos com Tachi.
  18. Use seus braços para apoiar a lâmina (a parte plana). E mantenha-a próximo ao corpo.
  19. Sempre que possível mantenha a espada junto ao corpo, para golpear, girar, cortar.
  20. Não pense, apenas faça! E isso trará a vitória**.
Treino há quase 30 anos na Bujinkan e esta nova e inesperada arma é como um presente do Sensei. Meu conselho a você é: peguee uma espada chinesa e treine duro, você irá descobrir uma nova direção, 方 (Ho); um novo mundo de possibilidades.

A Hoken 宝 剣 (espada divina) de 2013 é o verdadeiro Kenpo 剣 法 (esgrima), e na verdade eu começo a pensar que é o verdadeiro princípio da luta de espada, Ho no Kenpo 法 の 剣法.

A cada ano o Sensei vem com um novo tema e cada ano eu me sinto como uma criança no Natal, mas este ano com esta nova espada é como ganhar uma loja inteira de presentes (kurimasu ho) クリスマス 舗.

Então? Ho Ho Ho ou Hô Hô Hô?



*:  Isto é segredo. Se você repetir isso irei negar, pois é apenas entre eu e você. Ok?
**: Nike é a deusa grega da vitória.

Arnaud Cousergue Shihan


¹ Nota do Tradutor: ou Ken, a arma tema deste ano.
² Nota do Tradutor: o Sensei à quem Arnould se refere é Hatsumi Sensei.
³ Nota do Tradutor: Furi se refere à movimentos de giro, como em Bo Furigata.



Tradutor: Daniel Pires Shidoshi
Publicado originalmente em:
http://kumafr.wordpress.com/2013/02/08/hoken-is-kenpo/






terça-feira, 3 de julho de 2012

Mark Lithgow - Sobre os Testes para Godan


O texto a seguir foi escrito por Mark Lithgow, no dia 10 Julho de 2011, e foi publicado em seu prórpio site. É sobre uma conversa que teve com o Soke sobre a aplicação dos testes para godan fora do Japão, sem a presença do mesmo.

Tive algumas dificuldade na tradução e o texto está com uma leitura difícil - peço desculpas. Aquele que lêem em inglês recomendo irem ao texto original, que linkei acima e no final desta postagem. Creio que entenderão as minhas dificuldades. O importante neste caso é o que ele quer dizer. Qualquer dúvida expressem nos comentários, pois pode ser a dúvida de outros.

Para auxiliar a leitura coloquei algumas orientações entre [colchetes]. O que estiver entre eles é uma adição MINHA.

Bufu Ikkan,
Daniel Pires Shidoshi


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Ok ... Eu quero deixar isto escrito antes que eu esqueça a conversa que tive com o Soke há cerca de uma hora atrás.

 Aqui está a história completa, para colocá-lo [o leitor] no contexto:

Nesta semana recebi vários e-mails de pessoas da Europa e dos EUA sobre a aplicação de testes para o godan. Testes para geodan costumavam ser concedidos exclusivamente por Hatsumi Sensei até poucos anos atrás, quando ele tinha seus 15º Dan realizando os testes sob sua supervisão.  Eram poucas exceções em que 15º Dan recebiam permissão especial para aplicar os testes. Naquela época [Hatsumi] Sensei costumava pedir para que o teste fosse filmado e mostrado à ele.

Aqueles que me contataram o fizeram por terem notado que algumas pessoas diziam nos anúncios de seus seminários que haviam recebido permissão para realizar os testes. Estas pessoas pediram ajuda para entender o que está acontecendo. As preocupações iam desde "Posso aplicar os testes também?" até "É ESPERADO que eu também realize estes testes?". Alguns exprimiram a preocupação de que o teste para Godan, que costumava ser um privilégio exclusivo do Soke, é um "tesouro" da Bujinkan e que ao tornar-se aberto poderia vir a perder seu valor. O medo é que ele se tornse nada mais do que uma "ferramenta de marketing". Devo que admitir que compartilho destas preocupações. 

Eu não tinha certeza sobre a situação ainda .... por isso ...nesta manhã, antes de ir para treinamento com Hatsumi Sensei no Hombu Dojo, coloquei tudo isso no papel (em japonês) e enviei por fax para Soke. Descobri que esta é uma boa maneira para se comunicar com ele, já que ele pode ler e meditar sobre a questão antes, com mais tempo. Geralmente discute depois o assunto comigo, no dojo. Eu estava certo em explicar para ele em detalhes as confusões das pessoas, dúvidas e preocupações.

Eu não fiz contato visual com ele até que passou por mim, curvou-se em cumprimento e disse: "Obrigado! Obrigado pelo fax!". Ele não mencionou isso novamente até se retirar[após a aula, provavelmente]. Depois de fazê-lo, disse a todos (comigo traduzindo), "Acerca dos testes para godan... Quando a realizar estes exames é importante ter pelo menos três 15º dan presentes (um para aplicar o teste e os outros dois para julgar). Cabe a esses 15º dan certificarem de que a pessoa que se submete ao teste está física e mentalmente preparada para realizá-lo, e que ele(a) já seja um 4º dan. "

Isso não foi o suficiente para mim, então pedi à ele depois que esclarecesse algumas coisas. Tivemos uma boa conversa ainda de pé, no dojo. Perguntei: "Basicamente qualquer 15º dan pode aplicar o teste, se houver outros dois presentes?" "Sim... Contanto que me comuniquem antes!" Foi sua resposta. Ele voltou a salientar a responsabilidade que as pessoas estão aceitando se administrar esses testes. Eles devem verificar com exatidão todas as informações da pessoa que está se submetendo ao teste. Devem saber há quanto tempo ela treina e com quem. Sugeriu também fosse entregue aos 15º dan um Budo-reki (um registro escrito da história da pessoa nas artes marciais, incluindo outras artes estudou ... seus professores, etc.).  Este Budo-reki deve ser parte julgamento sobre a pessoa estar ou não qualificada para realizar o teste. Eles devem também verificar provas físicas de que a pessoa é realmente um 4º dan.

 Contei então as minhas preocupações sobre isso se tornar nada mais que uma ferramenta de marketing para algumas pessoas. Ele concordou, mas disse que agora era o momento em que ele observar se as pessoas amadureceram ou não até o nível que ele espera. "Se eles fizerem bobagem ...", brincou,  “terão que vir até mim para serem testados novamente!". Ele admite que há um "risco" nesta confiança que ele está colocando nas pessoas, mas que é um risco importante para o crescimento da Bujinkan. Ele está observando atentamente como os professores da Bujinkan reagem a essa responsabilidade.

Desta minha conversa com o Sensei segue um o resumo para ajudar a entender a situação:

 • O 15º dan que desejam administrar testes devem entrar primeiro em contato Hatsumi Sensei, para receberem a autorização. Isto pode ser feito por correio, fax ou, se um tradutor estiver disponível, por telefone.
• Não basta aceitar as pessoas 'na porta' para fazer o teste. Faça algum tipo de processo de candidatura. Eles devem ser capazes de provar que são 4º dan e que eles treinaram o suficiente. "Meu cachorro comeu meu certificado" não é aceitável! Se houve algum problema administrativo os impedindo de receber um certificado, isto deve ser esclarecido ANTES de fazer o teste! Considere este alguém como candidato a um emprego. Eles têm que ter seu currículo aceito até mesmo para atingir a fase de entrevista. Seu Budo-reki é o seu currículo! Aceitar algum tipo de "tese" pode ser bom também. Só para provar que eles têm alguma "substância" em seu Budo-reki. (Eu, particularmente, eu não me envolverei em qualquer teste godan antes de ver fisicamente um certificado original de 4º dan ... Tenho visto muitas cópias fraudulentas e fotos modificadas enquanto ajudo no Honbu Dojo).
 • É parte do processo de 'veto' saber se a pessoa é saudável ... fisicamente E mentalmente! 
• Após a pessoa ser bem sucedida no teste, todos os detalhes devem ser enviado para o Honbu Dojo imediatamente. Data e local do teste... nomes e assinaturas do examinador [quem aplica o golpe] e dos juízes, juntamente com todos os detalhes e fotografias do novo 5º Dan. Estes serão seus registros a partir de então. Também é interessante que seu Budo-reki esteja incluso. Na minha opinião, filmar o teste e enviar um DVD para constarem nos registros também é uma boa ideia. Mal não pode fazer, não é? 
• Ser apto para aplicar os testes 5º dan deve ser considerado um privilégio e uma honra! Este teste é o passo mais importante em nosso treinamento na Bujinkan, é quando nos tornamos alunos diretos do Soke. Esta capacidade deve ser vista como digna e especial... não apenas como uma ferramenta para o marketing para um seminário ou para si próprio. Devemos fazer um esforço para provar ao Soke que a sua confiança em nós é justificada!

Mark Lithgow Shihan
Tradutor: Daniel Pires
Originalmente publicado no endereço eletrônico:  http://www.bujinkanbudokai.nl/news.html

terça-feira, 5 de junho de 2012

Você realmente entende o que é a Bujinkan?



Quando ministro seminários me surpreendo com frequência ao descobrir os equívocos realizados tanto por professores quanto alunos ao redor do mundo. Como disse uma vez durante um seminário: "Ninguém está forçando você a ser parte da Bujinkan, se você quiser fazer suas próprias coisas, faça, mas não chame isto de Bujinkan!".

Por isso, foi um verdadeiro prazer no último final de semana encontrar o grupo de Manolo Serrano, na Bélgica, e passar algum tempo com ele e os irmãos Mitrou, da Grécia. Todos eles 14°dan, foi bom partilhar a nossa visão da arte. No caminho de volta, pensei que seria apropriado neste espaço do blog refrescar nossa memória sobre o que é o Bujinkan realmente é.

Hatsumi sensei, quando começou espalhar sua visão sobre Budô e compartilhá-la por todo o mundo, não havia nenhum plano, nenhum processo passo-a-passo acontecendo. Hatsumi sensei estava apenas compartilhando seus conhecimentos com todos os dispostos a ouvir. Em 1983 ele publicou, em japonês, o seu primeiro Ten Chi Jin Ryaku no Maki, no qual detalhava os princípios e fundamentos da nossa arte. Um versão revisada, traduzida para o Inglês, chegou até nós da Europa em 1987. Dez anos mais tarde Hatsumi sensei decidiu seguir em frente e estabeleceu um tema e um conceito para ser trabalhado a cada ano.

Em 1993, tive a sorte de ser jûdan na Bujinkan, com fundamentos suficientemente estabelecidos para acompanhar a evolução do sensei em seus ensinamentos. Como muitos praticantes da Bujinkan de hoje não eram estudantes naquela época, gostaria de listar novamente os temas que criaram a arte como conhecemos hoje.

Após o Ten Chi Jin Ryaku no Maki, aprendemos distanciamento e angulação ao longo de 5 anos:


Bô jutsu - Bastão de 180cm (1993),
Yari jutsu - Lança (1994),
Naginata jutsu - Alabarda (1995),
Biken jutsu - Espada (1996),
Jo jutsu - Bastão de 90cm (1997).


Durante o Taikai de Valencia (1995) e novamente no Sanmyaku (o boletim de notícias da Bujinkan, na época) Hatsumi sensei disse que ", yari e naginata são os sanshin no kata das armas longas".

Então entramos no mundo do budô taijutsu e estudamos não as escolas (como se frequentemente acredita), mas os 5 pilares do movimento do corpo, através de cinco dentre as nove, que foram:


Taihen jutsu - shinden fudo ryû (1998),
Daken taijutsu - kukishinden ryû (1999),
Koppo jutsu - roto ryû (2000),
Kosshi jutsu - gyokko ryû (2001),
Jûtaijutsu - takagi yoshin ryû (2002).


Este segundo ciclo de cinco anos, que pode estar relacionado de alguma maneira ao gogyô, nos permitiu entender (através do treino em escolas específicas) as várias formas de encarar o adversário e adaptar a nossa forma de lutar à situação.

O terceiro ciclo foi ainda mais complexo, conforme adentrávamos o mundo ou a dimensão do juppô sesshô ("Negociando nas Dez Direções”). Aquele também foi um ciclo de 5 anos. No Japão, juppô sesshô é o mais alto nível técnico e mecânico em qualquer sistema marcial (ryûha), e confere a possibilidade de adaptar uma forma específica de combate a qualquer situação encontrada. Quanto ao segundo ciclo (os 5 Pilares do budô taijutsu), o ponto importante aqui não tem nada a ver nem com a arma que usamos ou a escola estudada. O ciclo de juppô sesshô foi o seguinte:


Sanjigen no sekai - kunai e shotô (2003),
Yugen no sekai - roppô kuji no biken - espada de kukishin (2004),
Kasumi no hô - gyokko bô (2005),
Shizen - shinden fudô ryû (2006),
Kuki Taisho - espada e yoroi (2007).


O juppô sesshô desencorajou diversos praticantes e até hoje muitos dos shidoshi realmente não têm idéia do que foi estudado durante esses 5 anos. Muitos professores não entendem a profundidade do temos recebido. Quantos deles sabem que as técnicas de kukishin ryû bô jutsu eram usadas para ensinar o sentimento de kasumi da gyokko ryû? Também o movimento de "happo" para "juppô" deve ser visto como uma espécie de salto quântico no mundo da física da Bujinkan.

Este ciclo de juppô sesshô terminou a série que agora podemos ver como uma espécie de ten chi jin. Todos sabemos que o ten ryaku lida com o trabalho dos pés (ângulo, distância), o chi ryaku com a mecânica do corpo (budô taijutsu) e o jin ryaku com uma mistura de tudo (movimento do corpo ao espírito).

Esta progressão em 3 etapas (sanpô) de 5 anos (gohô) pode ou deve ser considerada como o verdadeiro kihon happô da Bujinkan (3 × 5 = 8!).

Então era hora de começar o estudo do shiki - consciência - do sexto elemento que o sensei introduziu à nossa comunidade, em 2005. Então, estudamos coisas mais baseadas em conceitos "filosóficos" do que em escolas ou movimentos mecânicos. Foram elas:


Menkyo Kaiden - destruir o processo de pensamento (2008),
Sainô kon ki ou saino tamashii utsuwa - a habilidade, o espírito e o recipiente (2009)
Rokkon shôjô - a felicidade é a essência da vida (2010).


Se Hatsumi sensei seguir o ciclo de cinco anos que ele, aparentemente, tem seguido até agora, podemos esperar o final deste para 2012. Mas é apenas um palpite.

Espero que esta pequena revisão dos vários temas tenham sido úteis para você, que agora você pode responder à pergunta inicial:

Você realmente entende o que é a Bujinkan?

Arnaud Cousergue Shihan
Tradutor: Daniel Pires

Este texto foi originalmente publicado no endereço eletrônico: http://kumafr.wordpress.com/2010/03/29/do-you-understand-the-bujinkan/

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Cerimônia

É recorrente, quando se fala de cultura japonesa, lembrar dos gestos, sendo o de se curvar o mais lembrado. Isso é porque o Rei Shiki (etiqueta) é muito importante para eles, determinando desde o lado usado para carregar arma e a forma de carregá-la (Ex.: Katana, Rokushaku Bo) até como você se senta e se porta próximo ao mestre.

Muita gente pergunta o significado da cerimônia que fazemos antes e depois dos treinos e sobre as palavras que dizemos. Farei alguns esclarecimentos sobre eles, para não causar desconforto em alunos novos e nem dar margem para más interpretações.

Aquela cerimônia é parte do que chamamos da nossa etiqueta no dojo e foi ensinada ao Soke por Takamatsu. Ela nada tem de adoração a imagens ou algo do tipo. É uma forma de cumprimentarmos o sensei(professor); de focarmos no treinamento, lembrando porque estamos ali; de deixarmos o mundo exterior lá fora e, ao sair carregarmos o dojo para o mundo.

Seguem abaixo duas interpretações do mantra que dá início e fim aos treinos - e não traduções, pois mantras não se traduzem.

- Um interpretação geral, sobre o mantra todo:

Shikin Haramitsu Daikomyo

“O momento da verdadeira interação entre a mente e o espírito conduz à iluminação”

- E parte por parte:

Shikin é a sensação e a harmonia percebida pelos sentidos do coração e da audição. É também o som criativo que nasce da união de dois pólos opostos (in/yo, yin/yang, homem/mulher).

Haramitsu, bem conhecido na linguagem Sânscrita como Pararnita (um dos Paramita Ksanti), que é o Satori do Buda ou um estado permanente de despertar espiritual que ultrapassa os limites da vida e da morte. A essência dos seis Paramita consiste em não sentir amargura, dor ou inveja e desenvolver perseverança na relação com o mundo à nossa volta. A idéia do sensei Hatsumi é promover a sinceridade, a lealdade e a honestidade.

Daikomyo no Budismo significa o grande esplendor de Buda. Para nós, é a iluminação que parte de nosso interior e vai até o nosso exterior. Ele ou ela pode sentir o plano físico como a luz do nosso coração.

O Sanpai sahō vêm de uma tradição Shinto da manifestação do Otodama, a presença espiritual (de si) na forma de um som. No nosso caso, batemos duas palmas, nos curvamos em reverência e batemos mais uma.

Onegai Shimasu (dito antes do treinamento) dignifica  "Por favor, me instrua/oriente."

Domo Arigato Gozaimashita (dito após o treinamento) é uma maneira formal de dizer "Muitíssimo Obrigado"

Notem que a etiqueta e o respeito existem dos dois lados, o professor também é instruído e também agradece aos alunos.

Espero ter ajudado a esclarecer um pouco do que fazemos dentro do dojo e fiquem à vontade para expressarem suas dúvidas.

Daniel Pires Shidoshi

P.S.: Partes deste texto foram tiradas de outros textos e outros sites. Não tenho comigo o nome dos autores, já que são textos amplamente divulgados. Caso você seja o autor e se sinta ofendido me comunique.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Entrevista na CBN - Defesa Pessoal para Mulheres

Acabei de uma entrevista na CBN Campinas sobre Defesa Pessoal para Mulheres e vocês podem conferir abaixo.

Buffu Ikkan,
Daniel Pires